Onde está a diferença?
Por: José Valdir Cavicchioli, Consultor de Transportes
Certa vez conheci o dono de uma transportadora com uma frota de aproximadamente 20 caminhões. Pessoa simples, humilde, roupa com manchas de graxa, o típico ex-motorista (às vezes ainda motorista, quando necessário). Seu rosto deixava as marcas do sofrimento que já passou, do trabalhou duro, de sua “quilometragem”, sem trocadilhos. Sua história, até então, remontava dez anos e tudo começou quando o proprietário da transportadora em que era agregado se cansou de determinado cliente pelos fretes ruins que oferecia. Na época nosso amigo tinha dois caminhões antigos e, como era o melhor motorista agregado da empresa (entenda-se, rodava muito), o empresário ofereceu o serviço ao valente carreteiro, que prontamente aceitou. Ao comentar o fato, sua sorridente frase foi emblemática: “o que é ruim para um pode ser bom para outro”. E assim foi. Vieram mais clientes e mais caminhões e hoje ele desfruta de uma vida que, apesar das muitas “dores de cabeça” e inquietudes desse difícil segmento de mercado, é consideravelmente melhor do que na época que rodava sozinho por esse país a fora.
Histórias como estas, com suas nuances, existem centenas, talvez milhares. Contudo, quando comparado ao exército gigantesco de caminhoneiros, esse grupo representa muito pouco. É um mundo em que muitos já tentaram, mas poucos conseguiram. A questão é saber de onde vem esse efeito que segrega alguns de muitos, o que eles fizeram e outros não. Ao conversar com essas pessoas fica mais fácil de conhecer as respostas. As expressões, os olhos cansados e as histórias de vida dão a dimensão do quanto trabalharam para estarem ali, neste grupo seleto de empresários ex-motoristas, que pessoalmente tenho o maior respeito e admiração.
Na busca dos porquês alguns se sobressaem, cheguei a três razões que, se não dizem tudo, expressam resumidamente o que fez esse virtuoso caminhoneiro e que pode ser projetado para os demais: trabalho incansável (o grifo não dá a exata dimensão da verdadeira intensidade do termo), sensibilidade com pessoas e visão diferenciada.
O exemplo é de um caminhoneiro, mas os conceitos valem para todos. Você também pode ter suas opiniões sobre os motivos do sucesso, mas, na minha modesta opinião, a melhor forma de entendê-lo é conversar com alguém que o alcançou, olhar nos olhos da pessoa, saber sua história e tirar suas próprias conclusões, pois assim a “coisa” deixa de ser teórica e irá entender como funciona na prática. Casos reais explicam-se por si só. Os livros são complementares. Meu amigo acima, além de uma inspiração, é prova disso.